Zema responsabiliza BRICS pelo “tarifaço” de Trump e “exige” saída do Brasil do bloco e trai interesses do Sul Global
Pré-candidato à Presidência, Zema tenta desviar culpa institucional para ganhar narrativas liberais e joga o Brasil contra parceiros estratégicos do Sul Global.

O governador de Minas Gerais e pré-candidato à Presidência, Romeu Zema (Novo), lançou uma ofensiva retórica acusando o Brasil de enfrentar as tarifas de 50% impostas pelos EUA por culpa de sua adesão ao BRICS. Para ele, o alinhamento com o bloco teria “provocado o enfraquecimento da diplomacia americana”, e a solução seria sair do grupo e buscar entrada na OCDE, um clube exclusivo de economias ocidentais.
Zema acusa o presidente Lula de adotar uma postura “antiocidente” e “antiamericana”, alegando que isso provocou represálias comerciais. Ele aponta que os BRICS incluiu regimes autoritários, como Rússia, China, Irã e outros, e critica o bloco como “sem valores ocidentais ou democráticos”.
Com isso, Zema defende que o Brasil abandone o BRICS e retome a tentativa de ingresso na OCDE — iniciativa que, segundo ele, foi abandonada pelo PT. Na visão dele, essa mudança represaria uma política diplomática mais pragmática, atrairia investimentos e aliviaria tensões comerciais com os Estados Unidos.
Um discurso que agrada Wall Street e ignora o Sul Global
Para a esquerda, esse discurso de Zema representa um retrocesso. Ele tenta transformar uma crise geopolítica — gerada por interesses estadunidenses, sanções e a ascensão dos BRICS — em problema doméstico de identidade ideológica do Brasil. Enquanto isso, o próprio Brasil reafirma seu compromisso com a multipolaridade, e declarações de diplomatas como Celso Amorim reafirmam a continuidade dos laços com o bloco emergente, como forma de buscar autonomia mútua e fortalecer alianças regionais e globais não dependentes de Washington.
Em vez de enxergar os BRICS como um espaço para cooperação e fortalecimento do Sul Global — essencial para romper décadas de subordinação — Zema o trata como culpado pelo “tarifaço” estadunidense. Ele desconsidera que Trump usa esses episódios como arma política e econômica e tenta retrair o Brasil para uma aliança subordinada ao eixo ocidental, interna e externamente dominada por Washington.