Vitória histórica de Javier Milei fortalece agenda do governo argentino
Com quase 41% dos votos, o partido de Milei amplia bancada legislativa e intensifica reformas no Congresso

O presidente argentino Javier Milei conseguiu uma vitória eleitoral que desafia previsões da ciência política. No domingo (26/10), seu partido governista alcançou quase 41% dos votos nas eleições legislativas para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.

O partido La Libertad Avanza (LLA), liderado por Milei, foi a força mais votada no país e garantirá uma bancada ampliada a partir de dezembro, quando começa a segunda metade de seu mandato presidencial. Ainda que não tenha maioria absoluta, o governo terá condições mais sólidas para defender sua agenda no Congresso e anunciou que buscará acordos com outros partidos para impulsionar reformas.
Em seu discurso após a apuração, Milei declarou: “Hoje passamos o ponto de inflexão; hoje começa a construção de uma grande Argentina. Nos próximos dois anos, precisamos consolidar o caminho reformista.” A frase reforça o tom triunfal e a aposta em um novo ciclo.
O resultado surpreendeu porque ocorre num momento de forte adversidade: o governo enfrentou uma severa crise econômica, escândalos que abalaram sua campanha — como o lançamento questionável de uma criptomoeda vinculada ao partido — e uma recente derrota na província de Buenos Aires. Ainda assim, LLA venceu até mesmo nesse reduto da oposição tradicional.
Analistas apontam que a vitória de Milei decorre de uma combinação de fatores. A geração mais jovem, cansada da “casta política”, foi atraída pela retórica disruptiva do governo. A oposição, por sua vez, falhou em apresentar uma alternativa clara e foi acusada de apostar na erosão do governo em vez de propor soluções. Uma cientista política argentina observou que muitos eleitores escolheram “a incerteza do futuro” diante da certeza do passado.
Apesar dos avanços, há sinais de alerta: a abstenção eleitoral foi de cerca de 32%, a mais alta em eleições legislativas em mais de uma década no país — o que revela desconfiança ou esgotamento entre os votantes.
Com os novos mandatos, Milei espera consolidar vetos presidenciais sobre leis aprovadas que ele rejeite e acelerar reformas estruturais. Mas o desafio será construir alianças funcionais em um Congresso que ainda exigirá negociação — sobretudo se o governo quiser evitar que sua agenda autoritária ou econômica de “cura de choque” fique suspensa por resistência política ou social.
