A mobilização em São Paulo e outras 61 cidades revela inspiração no “tarifaço” de Trump, não lealdade ao ex-presidente

📊 O que aconteceu em 3 de agosto?

  • São Paulo (Av. Paulista):
    Estimativas independentes registraram 57.600 pessoas (Poder360, foto aérea entre 15h00 e 15h20) e ≈ 37.600 ±12 % (USP/Cebrap + More in Common às 15h33), mesmo sem Bolsonaro presente
  • Rio de Janeiro (Copacabana):
    Não houve público oficial divulgado. O evento foi palco de discurso do senador Flávio Bolsonaro, com exaltação de bandeiras dos EUA e slogans como “thank you, Trump”
  • Brasília (Eixo Sul, frente ao Banco Central):
    Sem imagens aéreas e sem estimativas da PMDF até o momento, o ato foi organizado por aliados da deputada Bia Kicis e ficou limitado a uma quadra.
  • Sem dados consolidados, sabe-se apenas que 62 cidades — entre elas 15 capitais como Salvador, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Porto Alegre — tiveram atos associados à nova convocação “Reaja, Brasil”

ℹ️ Sem números oficiais

Até agora, nem PM-SP, nem PM-RJ, nem PMDF divulgaram estimativas consolidadas; todas as marcações são de organizações externas à corporação.

O momento mudou — é sobre Trump, não Bolsonaro

1. Tarifaço de Trump explodiu o discurso

Na última quarta (9 de julho), o governo Trump anunciou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto — motivada pelo crescimento do BRICS e criação da moeda única do bloco. A medida foi o maior choque tarifário contra o Brasil desde a Era Smoot‑Hawley — e estourou o alerta nos mercados globais.

2. Protestos com bandeiras dos EUA, “Magnitsky” e defesa do Trump

Fotos e vídeos da Paulista mostraram gritos de “Magnitsky”, cartazes em inglês agradecendo Trump, e até um banner “BolsoTrump” em carro de som. O mote “Reaja, Brasil” uniu ataques ao STF — especialmente ao ministro Alexandre de Moraes.

3. Bolsonaro fora, mas Trump reina

Mesmo impedido de sair de casa aos fins de semana, já que cumpre tornozeleira eletrônica imposta por Moraes, Bolsonaro não estava no ato. Seguidores foram convocados a reagir mais à opressão do “imperialismo judicial” de Moraes do que à causa de um líder sem voz na rua.

Hipótese: o salto nos protestos foi por Trump — e não por Bolsonaro

  1. Aumento abrupto de 16 mil (29/junho) para até 57 mil (3/agosto), mesmo sem o ex-presidente destaca uma mudança de motivação: a chave foi o tarifão, não a defesa pessoal de Bolsonaro.
  2. Símbolos estrangeiros dominaram o repertório visual e verbal, como se os protestos tivessem virado uma extensão cruzada da retórica trumpista.
  3. A pauta vociferada — “Fora Moraes”, “Anistia ampla”, “Trump ajuda o Brasil” — segue à risca a agenda imposta por Washington após o anúncio das tarifas. Bolsonaro virou personagem secundário, multidão virou marionete da narrativa global.
  4. Essa transformação explica por que eventos concomitantes em outras 61 cidades não conseguiram repetir os picos da Paulista: onde Trump ecoou — e imprensa internacional repercutiu — houve adesão.

O que isso diz sobre a direita vassalocrata e o país?

  • A direita brasileira perdeu coesão. Bolsonaro, só com vaidade e sob custódia, não mobiliza mais por si só. Hoje, são as demandas externas — tarifas, retaliações, mitos geopolíticos — que ditam a pulsão de protesto.
  • No entanto, a pauta anti-IMF, anti‑STF acessada pelos bolsonaristas está se tornando uma marionete das sanções de Trump. Quando um país estrangeiro vira protagonista da narrativa — idealizado como “salvador anti‑Lula” — deixamos de ter protesto nacional e passamos a ter espetáculo de obediência imperial.
  • Para a esquerda e o governo Lula, a lição é clara: não basta debater Bolsonaro. É vital apontar que a soberania brasileira está sendo usada para encenar uma peça sobre retaliação estrangeira e instrumentalização midiática.

Oportunidade política

Ao mesmo tempo em que os protestos revelam inocuidade política, também representam uma janela estratégica:

  • Servem como exposição ao fato inequivocamente democrático: Bolsonaro está isolado, sem bases reais de apoio popular.
  • Abrem caminho para mobilizar amplos setores — sindicalistas afetados pelos aumentos causados pelas tarifas, camponeses impactados por flutuações no agronegócio — e mostrar que a tarifa de Trump é crise para Bolsonaro, não para o Brasil.
  • Exigem que Lula e os bricsistas fortaleçam a agenda nacionalista: tarifa de reciprocidade, investimento em soberania tecnológica e diplomacia multilateral — resposta política firme ao chantagismo comercial.

Conclusão

O aumento expressivo na mobilização sem Bolsonaro em 3 de agosto não foi um testemunho de força da extrema-direita, mas sim um sintoma de dependência: o ex-presidente virou coadjuvante diante do efeito Trump.

Os manifestantes agiram não em defesa de uma figura nacional, mas sob o fascínio da retórica imperial — usando bandeiras norte‑americanas como escudo simbólico contra as instituições brasileiras.

Essa inversão contrárias às narrativas identitárias da direita sinaliza: a verdadeira revolução obrigatória será reindustrializar o país dentro da lógica dos BRICS e romper com a tutela imperial — não reproduzir o teatro de obediência estrangeira.

Quando a direita depende de Trump para mobilizar, é o nosso dever promover soberania de fato — e não de fachada.

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