Presidente do instituto revela apagão estatístico, desmantelamento institucional e abandono que comprometeram a função pública.

O economista Marcio Pochmann, atual presidente do IBGE, denunciou de forma contundente o que chama de “desmonte profundo” da instituição nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Em entrevista coletiva concedida a veículos independentes, Pochmann disse que o arrocho orçamentário, a rotatividade de presidências e a paralisação de concursos destruíram a capacidade técnica e estatística do órgão.

Ele relatou que, ao assumir em agosto de 2023, o IBGE vivia cenário crítico: cinco presidentes nos últimos seis anos, ausência de reajuste salarial, dez anos sem realizar concursos e quedas severas no orçamento. Sem novos servidores, muitos setores ficaram paralisados.

O ponto mais alarmante, segundo Pochmann, foi o que ele chamou de apagão estatístico durante o governo Bolsonaro. O censo que deveria refletir a realidade de 2022 ainda sofre atrasos, e a instituição sofreu cortes que inviabilizaram a coleta de dados essenciais para políticas públicas.

Pochmann enfatizou ainda que o IBGE precisa de transformação digital urgente: uso de inteligência artificial, cruzamento de bases de dados nacionais (como DataSUS, CadÚnico e Receita Federal) e modernização da produção estatística para responder às demandas contemporâneas.

Ele lembrou que, sob sua gestão, o instituto retomou concursos — inclusive o maior da história do IBGE — e iniciou a recuperação salarial, especialmente para os cargos mais baixos. A reabertura institucional também permitiu reinserir o instituto em fóruns internacionais e retomar protagonismo estatístico.

Pochmann não poupou críticas políticas: afirmou que o desmonte da instituição foi parte da estratégia neolibelista de enfraquecer a capacidade do Estado de produzir evidências próprias, algo essencial para planejamento social e soberania. Agora, ele aposta na reconstrução institucional como antídoto à manipulação dos números pelo poder econômico.

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