Ao reivindicar associação plena, Palestina desafia ordem mundial e reafirma valor estratégico do Sul Global

A Autoridade Nacional Palestina apresentou oficialmente ao bloco BRICS um pedido de adesão plena — movimento que ultrapassa o protocolo diplomático e carrega o peso simbólico de uma declaração de soberania contra a geopolítica colonial. Até aqui, ninguém respondeu formalmente. Enquanto isso, a Palestina continuará participando como convidada, aguardando que as “condições necessárias” para se tornar membro pleno sejam reconhecidas pelo grupo.

O embaixador palestino na Rússia, Abdel Hafiz Nofal, enfatizou que a iniciativa não é mera formalidade: “apresentamos a solicitação, mas, como sabem, a Palestina possui certas condições. Acredito que seguiremos como convidados até que essas condições permitam membro pleno. Ainda não recebemos resposta.”

O BRICS — composto originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — vem se transformando de arcabouço econômico em polo político de resistência contra a ordem hegemônica. Em 2024, incorporou Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes; em 2025, a Indonésia virou membro pleno.

Por que esse pedido importa

A candidatura da Palestina ao BRICS não é meramente simbólica: é uma apostas nas rupturas do sistema global. Ao buscar espaço institucional no bloco que desafia o imperialismo, o povo palestino mira:

  • legitimação diplomática no eixo do Sul Global;
  • alianças políticas sem depender dos mecanismos ocidentais;
  • visibilidade para sua luta nacional e humanitária.

Se aceitar essa filiação, o BRICS sinaliza que não tolera que a Palestina permaneça sob cerco e silenciamento jurídico – e declara que seu destino é tratado como causa coletiva, e não disputa entre potências.

Obstáculos à visão emancipatória

A adesão não será automática. Os membros do BRICS terão de decidir, por consenso, critérios de ingresso e possíveis exigências contratuais. Divergências estratégicas internas, pressões externas e resistências política-ideológicas podem se impor.

Além disso, o próprio BRICS já expressou posições oficiais sobre o conflito israelense-palestino que incidem nessa decisão. Na Declaração do Rio de Janeiro (Cúpula de 2025), por exemplo, o bloco reafirmou apoio à criação de um Estado palestino soberano, exigiu cessar-fogo imediato e incondicional, denunciou o uso da fome como arma de guerra, defendeu a saída israelense dos territórios ocupados e apoiou a adesão plena da Palestina à ONU.

Em paralelo, o BRICS reafirmou a solução de dois Estados, baseada nas fronteiras anteriores a 1967, como alicerce para uma paz justa na região.

Isso põe o bloco diante da contradição: aceitar a Palestina não basta; é preciso sustentar esse ingresso com posições firmes contra ocupação e colonialismo. Se algum país do BRICS falhar, ou recuar por interesses externos, a candidatura perde força política — e corre risco de ser vetada ou diluída em condições simbólicas.

Caminhos adiante

  1. Avaliação interna nos países-membros do BRICS, com negociações e exigências a serem impostas à Palestina.
  2. Manifestação pública de apoio (ou rejeição) de atores centrais: Brasil, China, Índia, Rússia.
  3. Possível imposição de reformas, compromissos diplomáticos ou alinhamentos estratégicos para permitir o ingresso.
  4. A Palestina segue como convidada nos fóruns do BRICS, ampliando sua presença diplomática.

Este é um momento geopolítico decisivo. A candidatura da Palestina pode reordenar alianças no Sul Global — mas seu sucesso depende da firmeza dos estados membros do BRICS e da disposição política para romper com a lógica colonial que condiciona o destino de povos sob ocupação.

Fontes: Brasil247, BrasilDeFato

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