Em vídeo nas redes, pastor bolsonarista manipula decisões antigas de ministros para pressionar deputados favoráveis ao perdão

Brasília – Em nova tentativa de influência política, o pastor Silas Malafaia divulgou vídeo nas redes sociais com trechos de votos antigos dos ministros Gilmar Mendes e Cármen Lúcia do STF, com o objetivo de sustentar a ideia de que o Congresso tem plena liberdade para conceder anistia aos envolvidos no golpe de 8 de janeiro. A estratégia, porém, carrega distorções: o vídeo omite o contexto das decisões e manipula o significado dos posicionamentos dos magistrados.

No vídeo, Malafaia recorre à referência ao art. 48, inciso VIII da Constituição, que atribui ao Congresso competência de conceder anistia, para afirmar que deputados e senadores “não devem satisfação a ninguém” nesse processo. Ele encena esse recorte como “prova” de que o Poder Legislativo pode aprovar perdão sem riscos judiciais — ignorando debates constitucionais mais amplos e precedentes jurídicos.

Distorção intencional

As falas de Gilmar Mendes e Cármen Lúcia usadas no vídeo são reais — tratam de casos de 2010 em que ambos votaram contra a revisão da anistia de 1979. Mas esse posicionamento não equivale à defesa de nova anistia para os atos golpistas atuais.

Gilmar Mendes sustentou que conceder anistia é prerrogativa do Congresso, não do Judiciário. Cármen Lúcia, por sua vez, defendeu a impossibilidade de revisar judicialmente uma anistia já concedida. O que Malafaia faz é extrair essas falas para apoiar uma narrativa que favorece a anistia ampla, sem enfrentar os limites constitucionais, as consequências jurídicas nem a memória democrática.

Além disso, a operação de comunicação explora receios dos deputados que rejeitam dar sinal verde ao perdão: Malafaia pressiona dizendo que “o Supremo derrubaria qualquer anistia aprovada” — argumento que usa para inferir que esse risco não existe — o que é falso.

Mobilização política com dissimulação

A divulgação chega num momento de debate acirrado sobre anistia e blindagem política, com intensas manifestações populares contrárias ao perdão a quem organizou ou apoiou o ataque às instituições. Gilmar Mendes, recentemente, exaltou manifestações contra anistia, chamando-as de prova viva da força do povo na defesa da democracia e elogiando o STF por sua postura institucional.

Malafaia tenta aproveitar recuos ou hesitações no Congresso e reforçar o discurso de que “não haverá riscos jurídicos” caso a anistia seja aprovada. O método é clássico: misturar retórica de legalidade com omissão de elementos decisivos.

O significado real

Esse tipo de estratégia — distorcer falas, apagar contextos — é uma tática chocante de guerra política: ela tenta produzir consenso artificial em torno de uma narrativa enganosa. O que está em jogo não é apenas a anistia — é a reinterpretação do passado e a impunidade projetada para o presente.

Enquanto isso, a sociedade civil, partidos e movimentos democráticos têm a missão de combater essa manipulação. É preciso transparência, coragem política e enfrentamento frontal — para que as instituições não sejam subornadas por discursos falsos. Afinal: distorcer o passado para legitimar a impunidade é, ao fim, agravar o risco de golpes futuros.

Fonte: DCM

Compartilhe:

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.