Juros do cartão disparam para 449% ao ano — e ninguém é preso por agiotagem
Enquanto bancos fazem a festa com juros escorchantes, o povo se afunda em dívidas e o governo é pressionado a intervir

O dado é tão escandaloso que parece piada de mau gosto: os juros do cartão de crédito rotativo chegaram a 449,9% ao ano em maio de 2025. Isso mesmo. Quase 450%. Um número que, em qualquer país sério, seria motivo de escândalo nacional, CPIs, demissões e cadeia. Aqui? É só mais uma linha de boletim do Banco Central.
E o mais grotesco: isso acontece em plena vigência de uma regra que supostamente limitaria esse tipo de abuso. Desde 2023, entrou em vigor a lei que proibia que dívidas no rotativo fossem roladas por mais de 30 dias — uma tentativa de proteger o consumidor do ciclo interminável de juros sobre juros. Mas na prática, o que os bancos fizeram? Aumentaram as taxas na origem, para garantir o lucro mesmo com menos tempo de rolagem. Uma “solução de mercado” — que, traduzida, significa: espoliar o pobre mais rápido.
Rotativo: a armadilha perfeita para transformar R$ 100 em R$ 500 de dívida
Pouca gente entende como funciona o chamado “rotativo do cartão”. Mas todo mundo já caiu na armadilha. Você não consegue pagar o valor total da fatura? O banco automaticamente empurra o restante para o mês seguinte — com juros diários que transformam qualquer atraso em uma bola de neve. E essa bola cresce mais que inflação da Argentina somada à Selic do Armínio Fraga.
Com uma taxa de 449,9% ao ano, uma dívida de R$ 1.000 pode virar quase R$ 5.000 em apenas 12 meses. E quem lucra com isso? Itaú, Bradesco, Santander, Nubank, BTG… todos eles — que nunca lucraram tanto em cima da miséria do povo.
Banco Central finge que regula. Bancos fingem que obedecem. E o povo sangra
O mais revoltante é que ninguém segura essa farra dos bancos. O Banco Central, que deveria agir como guardião do sistema financeiro, virou escritório de relações públicas do capital especulativo. Solta notas técnicas, publica gráficos coloridos, mas não impõe teto real, não fiscaliza abusos, não protege o cidadão endividado.
Enquanto isso, a elite financeira aplaude de camarote. Com a Selic ainda em patamares elevados e o crédito mais caro da América Latina, o sistema bancário brasileiro virou uma fábrica de transferir renda dos mais pobres para os já milionários.
Até quando vamos aceitar essa agiotagem com CNPJ?
Vamos falar claro: isso não é juros. É extorsão legalizada. Em qualquer quebrada, quem cobra 10% ao mês é chamado de agiota e corre risco de cadeia. Mas quando é o banco, com paletó, sede em São Paulo e analistas na GloboNews, tudo vira “decisão de mercado”.
O governo precisa agir. O Congresso precisa agir. E a sociedade precisa gritar. Porque não dá mais para viver num país onde se paga quase 450% de juros e ninguém vai preso.
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