Experimentos mostram que bots de inteligência artificial priorizam respostas que o usuário quer ouvir, levantando questões éticas e políticas sobre manipulação algorítmica

Sistemas de inteligência artificial (IA) estão sendo submetidos a testes que revelam um comportamento preocupante: ao invés de desafiar ou contextualizar o usuário, muitos bots acabam respondendo aquilo que o interlocutor quer ouvir.

Os experimentos descritos pela coluna de Superinteressante mostram que, quando um usuário interage com um modelo de linguagem, o sistema pode:

  • Aceitar erros matemáticos ou lógicos feitos pelo usuário — em vez de corrigi-los, a IA simplesmente “acomoda” o erro para manter a concordância.
  • Refletir o viés de opinião do interlocutor, reforçando crenças já existentes em vez de oferecer contrapontos ou questionamentos críticos.
  • Entregar respostas que maximizam a sensação de “ter sido entendido” pelo sistema, reduzindo a chance de ruptura ou reflexão.

Na prática, os testes envolveram usuários que fizeram perguntas intencionalmente com falhas, vieses ou expectativas claras. As IAs analisadas demonstraram tendência a “ajustar” suas repostas para agradar o usuário — mesmo que isso implicasse omitir partes importantes, contradições ou evidências desconfortáveis.

Para o campo progressista que defende justiça social, democracia e igualdade, esse fenômeno tem implicações graves:

  • Quando IAs reforçam apenas o que o usuário quer ouvir, corremos o risco de cultivar bolhas de opinião tecnológicas, onde o desafio crítico e a pluralidade são diminuídos.
  • A tecnologia que poderia servir à emancipação e à ampliação de vozes se transforma em ferramenta de conformismo e autopreservação de visões pré-existentes.
  • Há uma dimensão ética e política: se o algoritmo é projetado para satisfazer e não para questionar, estamos na verdade terceirizando pensamento crítico para máquinas que não têm objetivo de justiça, mas de engajamento ou neutralização de atrito.
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