O que há por trás de toda essa confusão que alguns parlamentares têm causado nos últimos tempos?

O que há por trás de toda essa confusão que alguns parlamentares têm causado nos últimos tempos?

Invasão das mesas diretivas do Congresso, apoio à intervenção dos EUA contra a economia brasileira, ataques a decisões judiciais do Ministro Alexandre de Moraes, além de gritaria, ameaças e xingamentos — tudo isso transmitido ao vivo pela TV ou pelas mídias sociais.

Nesse cenário de tumulto generalizado, causado por um grupo numeroso, mas estatisticamente inexpressivo — cerca de 60 entre 513 deputados e 81 senadores —, entender o que de fato motiva essas ações é o primeiro passo para não se deixar contaminar pela histeria artificialmente criada. E, mais ainda, para apoderar-se dos instrumentos que libertam os que foram iludidos por essa turba.

Em qualquer circunstância, por maior que seja a doença, um bom diagnóstico é sempre o começo da cura.

E você já se deu conta do que os ex-deputados Joice Hasselmann e Alexandre Frota têm a ver com isso?

Eleitos em 2018 na crista da onda bolsonarista como campeões de votos, bastou se afastarem do clã para serem publicamente achincalhados nas redes sociais e em seu próprio eleitorado. Resultado: não se reelegeram para a Câmara dos Deputados e tampouco obtiveram sucesso ao disputarem cargos de menor densidade eleitoral, como a Assembleia Legislativa ou a Câmara de Vereadores de São Paulo.

Esse é o exemplo que repousa latente no âmago — e na alma assombrada — da maioria dos parlamentares que hoje protagonizam o espetáculo ridículo que temos assistido.

medo interno de serem rotulados como “traidores” do movimento bolsonarista, ou como “não radicais o suficiente”. Esse é o verdadeiro combustível de suas atitudes cada vez mais degeneradas, do ponto de vista democrático.

Medo de perderem seus cargos nas eleições do ano que vem.

Medo de abrirem mão dos benefícios de um polpudo salário parlamentar, de gabinetes recheados de “assessores”, e — sobretudo — do acesso privilegiado aos cofres públicos via “emendas pix” e outras bene$$e$.

A compreensão desse fenômeno é essencial para revelar o quão falaciosos são esses movimentos radicais que se dizem em defesa da “liberdade de expressão”, da “anistia para velhinhos inocentes”, contra a “ditadura do Judiciário”, entre tantos outros slogans.

Tudo falácia — ou, no bom e velho português: conversa pra boi dormir.

O leitor atento perceberá de plano que esse agravamento tende a piorar com a proximidade das eleições em 2026. Isso é um fato. Mas há ainda uma outra camada de análise mais profunda, e necessária para entender por completo esse fenômeno.

Desde que foram apeados do poder com a eleição do presidente Lula, e com a frustrada tentativa de golpe em janeiro de 2023, esses parlamentares têm percebido — a olhos vistos e como as pesquisas sérias têm informado — a expressiva diminuição da base eleitoral bolsonarista.

As mobilizações de rua esvaziam-se cada vez mais. Falta o viço da juventude que retroalimenta o crescimento de qualquer movimento político. E as reuniões, quando acontecem, ilustram mais um culto à nostalgia de um passado que jamais existiu, que um projeto de futuro capaz de elevar o país.

O líder da matilha perdeu o brilho: incapaz de encarar com altivez e coragem o seu tão acusado algoz – em contraste com a espinha ereta do atual presidente Lula durante seu calvário nos tempos áureos da lava-jato –, chegou ao ponto de, como um dócil animal de estimação castrado e abanando as franjas, proferir o inusitado e servil convite: “meu ministro, gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026, é isso aí…

Além disso, a conduta pública e entreguista de seu herdeiro de mesmo nome — colocando o país à mercê de interesses estrangeiros, estimulando a expropriação das nossas terras raras, prejudicando produtores agrícolas, pescadores e pequenos agricultores — só agravou o desencanto.

Há também a perda do acesso à máquina pública. Eventos antes grandiosos, patrocinados por cartões corporativos, ou o sequestro de festividades de Estado para fins políticos, tornaram-se inviáveis fora do poder.

Tudo isso os assombra ainda mais. E desperta neles um medo mais recente, mas igualmente paralisante: o medo de que a base eleitoral bolsonarista esteja se dissolvendo rápido demais para que todos se reelejam ano que vem.

Mais uma vez o medo — esse dínamo inconteste da ação humana ao longo da história — move os atos dos mais extremos entre os extremados.

É esse temor, íntimo e inconfessável, que vem elevando o tom político ao seu paroxismo. A cada grito, a cada espetáculo grotesco, o objetivo é um só: aparecer como “o mais radical entre os radicais”, mesmo que, para isso, se rasgue o decoro, a legalidade ou a dignidade parlamentar.

E, em casa que falta pão, todos ladram e ninguém tem razão.

A lógica é simples: se só restarem minguados votos radicais, será necessário “causar” ao máximo para capturá-los. Farinha pouca, meu pirão primeiro.

Novamente – quer dizer então que ainda vai piorar muito antes de melhorar? Sim. O que vemos agora é apenas a ponta do iceberg. De tédio, não morreremos.

Mas, como num filme cujo plot twist foi revelado cedo demais, a correta compreensão de todo esse enredo desmonta essa ilusão farsesca.

Entender o que verdadeiramente motiva os atos desses parlamentares é acender a luz do discernimento em meio às trevas da dissonância cognitiva — é algo capaz de quebrar as correntes que mantêm tantos cidadãos presos às sombras da ignorância, na caverna deste surto coletivo.

E, quanto ao mais, como sempre, as consequências virão depois.

Estima-se que possam todos encontrar-se no mesmo cárcere.

Este artigo não reflete a opinião do Notícias Progressistas, é autoral.

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13 comentários sobre “O grito que encobre o medo bolsonarista

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