Extrato de cannabis mostra eficácia contra dor lombar crônica e abre debate sobre política de saúde
Estudo clínico de fase III indica que medicamento VER-01 reduziu dor, melhorou sono e mobilidade — sem sinais de dependência

A dor lombar crônica atinge mais de meio bilhão de pessoas no mundo e está entre as principais causas de incapacidade — mas os tratamentos disponíveis são muitas vezes insuficientes ou arriscados para uso prolongado.
Agora, um estudo clínico de fase III traz um novo ator ao palco: o extrato de cannabis VER-01, formulado especialmente para aplicação terapêutica, mostrou eficácia e segurança no alívio da dor lombar persistente.
A pesquisa incluiu 820 pacientes na Alemanha e na Áustria, todos com dor de coluna crônica há mais de 3 meses e sem resposta satisfatória aos analgésicos não opioides. Alguns foram tratados por 12 semanas com VER-01, outros receberam placebo. Ao fim desse período, os pacientes que receberam o extrato relataram uma queda média de 1,9 ponto na escala de 0 a 10, frente a 1,4 ponto no placebo.
Para quem seguiu o tratamento por mais seis meses, a redução média chegou a 2,9 pontos — e 54% dos participantes atingiram pelo menos 30% de melhora na dor, frente a 39% no grupo controle.
Mais do que diminuir a dor, o extrato proporcionou ganhos em qualidade do sono, mobilidade e função física. Não foram observados sinais de dependência, abstinência ou necessidade crescente de dose — problemas típicos no uso de opioides.
Os efeitos adversos relatados foram leves: tontura, fadiga, boca seca, náusea e sonolência. Cerca de 17% dos pacientes interromperam o tratamento por causa desses sintomas.
Especialistas independentes saudaram o estudo. O ensaio foi considerado “o melhor nível de evidência” até agora para cannabis medicinal no tratamento da dor.
Porém, os próprios autores alertam: VER-01 não deve ser confundido com qualquer óleo ou produto de cannabis comercial. Ele foi desenvolvido com doses padronizadas de 2,5 mg de THC (5 % do extrato total), produção controlada e consistência química.
Mesmo com essas ressalvas, o estudo marca um passo decisivo: oferece uma alternativa real aos opioides para milhões de pacientes que sofrem com dor crônica. Se aprovado, VER-01 pode ser um divisor de águas no tratamento da lombalgia.
No Brasil, essa notícia conecta-se diretamente ao absurdo da proibição e da falta de regulação da cannabis medicinal — que obriga pacientes a recorrer a fórmulas irregulares e impõe entraves à ciência nacional. Se um medicamento como VER-01 já avança fora daqui, por que continuamos condenando os corpos e as pesquisas brasileiras ao limbo?
O estudo merece atenção — e, sobretudo, a exigência de que o Brasil abrace políticas de saúde que priorizem evidência, soberania e cuidado, não estigmas.
Fonte: Superinteressante