EUA vão barrar visto para “antiamericanos” — liberdade sob cerco digital
Ao exigir checagem ideológica nas redes sociais, os EUA transformam críticas políticas em questão de visto — essa é a face autoritária do “american dream”.

O governo Trump anunciou uma nova política: EUA vão barrar visto para “antiamericanos” — passando a vetar vistos, green cards e permissões de trabalho a quem demonstrar opiniões contrárias aos valores americanos nas redes sociais. A medida amplia o escopo de triagem realizada pelos agentes do Serviço de Cidadania e Imigração (USCIS).
Segundo o órgão, serão considerados “anti-American views” publicamente manifestados — como apoio a grupos terroristas, expressões antissemita ou críticas ao país — como “fatores amplamente negativos” capazes de justificar a recusa.
A política, já em vigor, vale para novas e pendentes solicitações de imigração, incluindo vistos de estudante, trabalho e residência. A triagem aparente se basear em publicações em redes sociais que possam expressar hostilidade às instituições, cultura ou governo dos EUA.
Críticos alertam que o conceito de “antiamericanismo” é vago e subjetivo, conferindo amplo poder discricionário aos agentes de imigração. Especialistas condenam a medida como uma forma de censura institucionalizada.
Critérios de “antiamericanismo” usados pelos EUA
1. Triagem em redes sociais
Agentes do USCIS farão buscas detalhadas nas redes sociais dos solicitantes para identificar sinais de:
- Afiliação a grupos “antiamericanos” ou terroristas, uso de hashtags ou expressões que demonstrem hostilidade ao país.
- Conteúdo antissemita, que se tornou motivo adicional de recusa ou revogação de visto.
2. Referência à lei de 1952 (INA)
Para justificar a prática, o USCIS recorre a uma seção da Lei de Imigração (Immigration and Nationality Act, de 1952) que proíbe naturalização de pessoas associadas a:
- Partidos comunistas ou ideologias radicais.
- Apoiadores da derrubada violenta do governo dos EUA.
3. “Ideias contrárias” como fator decisivo
O USCIS instrui que expressar, apoiar ou promover opiniões consideradas antiamericanas, incluindo críticas ao governo ou cultura dos EUA, pode ser motivo para negação de vistos — inclusive se for só um “fator negativo” na análise discricionária do caso.
4. Ampla discricionariedade dos agentes
Não há critério objetivo ou lista clara do que conta como “antiamericanismo”. Isso dá poder subjetivo aos agentes de imigração para interpretar discursos políticos, religiosos ou culturais como ameaça.
5. Expansão das categorias afetadas
A política vale para:
- Pedidos de vistos (estudo, trabalho, turismo).
- Green cards, residência permanente e cidadania.
- Inclui também análise de “bom caráter moral”, além de “antiamericanismo”.
6. Impacto real: revogação de vistos
A política já resultou em revogação de milhares de vistos. Por exemplo:
- Mais de 6 mil vistos de estudantes foram cancelados; dezenas foram atribuídos ao critério de “apoio a organizações terroristas”.
7. Perseguição política e acadêmica
Documentos mostram que o governo usou plataformas como Canary Mission para identificar estudantes e acadêmicos pró-Palestina, classificando-os como “antiamericanos” e revogando seus vistos.
Conclusão crítica
Esses critérios revelam uma política que transforma crítica política em risco migratório. O termo “antiamericanismo” é tão deliberadamente vago que pode incluir desde oposição ao governo até expressões artísticas. Isso inaugura um autoritarismo digital: basta tweetar o quê pensar, e o visto pode ser negado.
Fica claro: os EUA agora vetam liberdade de pensamento como se fosse ameaça — o triste legado de um regime que faz da imigração seu palco ideológico.