Áudios revelam esquema “30 %+30 %+30 %” de devolução de emendas no PL-SP com vinculação a Valéria Bolsonaro
Gravações obtidas por WhatsApp expõem negociata de R$ 100 mil sobre emenda de R$ 300 mil e atuação de assessora da deputada

Áudios de WhatsApp obtidos por meio de reportagem revelam um esquema interno de devolução de emendas parlamentares no interior de São Paulo, articulado por uma filiada ao Partido Liberal (PL) que se apresenta como assessora de uma deputada estadual licenciada. A gravação mostra que, de uma emenda de R$ 300 mil destinada a uma prefeitura da região, cerca de R$ 100 mil deveriam retornar como “taxa” para a estrutura política. Essa exigência sugere um padrão de cobrança de aproximadamente 33%, muito acima dos 10% habituais em práticas semelhantes.
A denunciante, identificada como Amanda Servidoni, filiada ao PL de Rio Claro (SP), relata em áudios: “Ele vai gastar 100k com a pista… e nós estamos dando 300. Desses 300 eu quero pelo menos uns 100. Não quero 10%, filho… vocês não sabem fazer negócio”. Há ainda menção a “abrir portas” em outras cidades, o que indica funcionamento como rede política de intermediação e mercado paralelo de emendas.
O esquema, batizado superficialmente de “30% + 30% + 30%”, era articulado para que uma parte da emenda fosse executada, outra retornasse como comissão e uma terceira servisse para viabilizar novos municípios na rede. A assessora se apresenta como ponte entre prefeituras, deputados estaduais e federais, mencionando que já “aberta portas” para repasse de verbas adiante.
As gravações colocam em xeque o discurso oficial de combate à corrupção do PL, e expõem a deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL), agora secretária estadual de Políticas para a Mulher de São Paulo, uma vez que foi ela quem indicou a assessora ao interior paulista e compartilha endereço político com a entidade presidida pela mesma.
Para analistas, o caso revela tanto a persistência das práticas de “taxa de emenda” no Brasil quanto a incapacidade do partido conservador de se desvincular dessas práticas. A movimentação internal vai de encontro à crise que o campo da direita enfrenta no plano nacional, com divisões severas e perda de base moral perante a opinião pública.
A nível institucional, o episódio abre três frentes de repercussão:
- Ministério Público e Tribunal de Contas estaduais podem instaurar investigação e pedir prestação de contas sobre execução das emendas.
- Assembleia Legislativa de São Paulo pode abrir comissão de inquérito para apurar as ligações entre deputado estadual, assessora e municípios.
- Eleitorado progressista passa a ter um dossiê que reforça a crítica à “direita vassalocrata” como parte da qualificação de sua agenda eleitoral.
