Operação “Carbono Oculto” revela esquema de lavagem com uso de fundos imobiliários para blindar patrimônio ligado ao crime organizado

Mohamad Hussein Mourad — conhecido como “Primo” ou “João” — é apontado em relatório da Receita Federal como pivô de um sofisticado esquema de lavagem e ocultação de patrimônio de R$ 57 milhões, com uso de gestoras da Faria Lima, em São Paulo. A manobra foi revelada no escopo da Operação Carbono Oculto, deflagrada no fim de agosto.

Segundo o relatório, 22 imóveis — entre casas de luxo, galpões, postos de combustíveis e motéis — foram transferidos de uma empresa em nome da esposa de Mourad, Silvana Corrêa, para o Fundo de Investimento Imobiliário Los Angeles, entre 2021 e 2024. As vendas ocorreram enquanto o casal enfrentava autuações e processos por fiscalização tributária.

Entre os bens destacados estão um galpão em Osasco avaliado em R$ 12,4 milhões e um motel na Rodovia Fernão Dias, com valor fiscal de R$ 12,2 milhões — ativos usados para “blindar” patrimônio e frustrar execuções fiscais no futuro.

As investigações apontam ainda que o fundo Los Angeles operava como fachada do mecanismo de ocultação: ele recebia os bens, enquanto os rendimentos migravam para uma conta no BK Bank, misturando transações sem identificação de beneficiários.

Além disso, foi identificada uma “camada de ocultação”: o fundo Derby 44, gerido por Himad Abdallah Mourad — primo de Mohamad — possui mais de 97 % de sua carteira composta por cotas do Los Angeles. Há suspeita de que isso funcionava como escudo para dissimular a propriedade real dos bens.

Himad, por sua vez, é ligado a mais de 30 postos de combustíveis em São Paulo, com movimentação fiscal estimada em R$ 638 milhões, mas com recolhimento pífio: cerca de R$ 25 mil em impostos, segundo o fisco.

As gestoras envolvidas — Reag (administradora original do Los Angeles) e Banvox (que assumiu em 2024) — também aparecem sob suspeita. A Banvox anunciou que renunciou à administração do fundo em 29 de agosto e alegou que não realizou operações durante seu controle. A Reag, por sua vez, informou ter transferido o fundo para outros gestores e cancelado seu registro na B3 após vir à tona nas investigações.

A Receita Federal concluiu que a operação representava risco até para investidores “de boa-fé”, ao demonstrar que gestores de recursos podem ser usados como instrumento de crime organizado e de lavagem de dinheiro.

A defesa de Mohamad Mourad nega com veemência as acusações, afirmando que não houve manobras fiscais ou ocultação de patrimônio.

Fonte: Diário do Centro do Mundo / Receita Federal / Operação Carbono Oculto

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