Eduardo Bolsonaro se isola do Centrão enquanto depende do bloco para escapar de cassação
Mesmo precisando da coalizão para livrar-se de processo no Conselho de Ética, o deputado acumula ataques ao próprio campo conservador

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive um paradoxo político que põe em xeque sua sobrevivência e sua base: ao mesmo tempo em que depende dos votos do bloco do Centrão para evitar abertura de processo de cassação, ele próprio anda cavando seu isolamento dentro desse campo ao atacar publicamente lideranças aliadas.
Segundo reportagem da CartaCapital publicada em 18 de outubro de 2025, Eduardo tem acumulado faltas não justificadas na Câmara, enquanto está morando nos Estados Unidos desde o início do ano.
A deterioração de sua relação com a coalizão do poder é visível: ele acusou os senhores Ciro Nogueira (PP), Valdemar Costa Neto (PL) e Tereza Cristina (PP) — figuras centrais do bloco — de “confundir seus interesses pessoais com os do Brasil”.
Além disso, a agressividade de Eduardo chegou a governadores de direita: chamou Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG) de “abutres” em postagens nas redes sociais.
Por trás desse atrito está o perigo real que Eduardo enfrenta: o processo aberto no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, cujo relator recomendou arquivamento de representação do PT, mas que ainda depende de votação pela maioria do bloco do Centrão.
Paralelamente, a possibilidade de cassação por excesso de faltas está sob análise do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O PL busca mudar regimento interno para ampliar tempo de afastamento sem remuneração — de modo a preservar mandato de Eduardo.
O comportamento de Eduardo preocupa antigos aliados. No meio político, dizem que ele “pode estar cavando a própria cova” ao tratar os partidos do bloco como adversários em vez de parceiros. Sua articulação nos EUA, supostamente para estratégias externas — incluindo pressões contra o “tarifaço” imposto por Donald Trump — reforça o sentimento de que ele se distancia da base de sustentação tradicional no Congresso.
Para um Brasil que luta por soberania, justiça social e fortalecimento dos poderes democráticos, esse episódio revela duas camadas importantes: (1) a fragilidade das alianças construídas por meio de fisiologismo e barganha política — e (2) o risco de que figuras com apelo midiático e populista dependam de apoios institucionais que podem virar-se contra elas rapidamente.
Eduardo Bolsonaro está num limbo político: requer o apoio que pontualmente está atacando. A frase-chave “Eduardo Bolsonaro se isola do Centrão” resume a encruzilhada. Se não reconduzir essas relações, seu mandato pode entrar em risco — e o campo conservador enfrenta mais uma crise de liderança.