Dosimetria empaca e bolsonaristas temem ter que votar contra o próprio texto
Projeto que reduz penas de golpistas enfrenta resistência interna: PL debate se mantém, muda ou abandona a proposta.

O chamado PL da Dosimetria — que propõe reduzir penas aplicadas aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro — patina no Congresso. A falta de acordo entre Câmara e Senado levou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a retirar o tema da pauta, para evitar desgaste político semelhante ao da PEC da Blindagem.
No PL, a proposta causa incômodo: se o texto for votado como está, os parlamentares bolsonaristas ficam em um dilema — não podem votar contra algo que beneficia aliados, mas tampouco podem aprovar um projeto que esvazie a narrativa da anistia ampla, geral e irrestrita. Por isso, há articulações para apresentar um novo substitutivo que deixe claro o perdão total a condenações e nulidades decorrentes de atos antidemocráticos.
Enquanto isso, o projeto original relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) enfrenta resistência não só no Senado — onde o presidente Davi Alcolumbre já indicou que o texto teria dificuldade —, mas também entre correligionários de Bolsonaro que temem “queimar” apoio eleitoral com um voto impopular.
A estratégia do PL agora é cautelosa: priorizar pautas seguras como educação e segurança, enquanto tenta costurar nos bastidores uma versão “mais leve” da dosimetria ou, na falta disso, empurrar uma nova proposta de anistia ampla. De todo modo, o impasse expose a fragilidade da base bolsonarista ao tentar construir uma agenda de recompensas aos seus sem romper publicamente com o discurso de “lei e ordem”.