PEC exige autorização do Congresso para processos criminais, reintroduz voto secreto e amplia proteções a caciques partidários

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defende a aprovação da chamada PEC da Blindagem, ou “PEC das Prerrogativas”, sob a justificativa de “fortalecer o mandato parlamentar” e remeter ao texto original da Constituição de 1988.

Aqui vão os principais problemas que esta proposta carrega — por que ela representa um retrocesso institucional e democrático, não um “resgate constitucional”:


O que a PEC propõe

  1. Deputados e senadores só poderão ser processados criminalmente ou presos com autorização prévia da sua Casa Legislativa, em votação secreta.
  2. Essa autorização, se negada, suspenderá o processo até o término do mandato parlamentar.
  3. Restrições quanto à prisão em flagrante e medidas cautelares. Por exemplo: somente STF poderá determinar certas medidas como bloqueio de bens, suspensão de redes sociais ou uso de tornozeleiras — retirando poderes de juízes de instâncias inferiores.
  4. A votação para autorizar processos contra parlamentares será secreta, voto majoritário.

Os absurdos, os riscos e por que é um retrocesso

ProblemaPor que é grave
Blinda parlamentares de responsabilizaçãoSe um parlamentar praticar ato ilícito, ele pode escapar do julgamento ou investigação se seus pares decidirem barrar o processo. Isso mina o princípio de igualdade perante a lei.
Voto secreto para decidir sobre processosSegredo no voto favorece pressões, conchavos e impunidade. Parlamentares podem ser influenciados por lealdade política ou receio de retaliações, não pela justiça ou pela lei.
Suspensão automática do processo se autorização for negadaCom isso, mesmo que existam provas e elementos fortes de crime, todo o trabalho investigativo pode ficar sem efeito até o fim do mandato — o que pode atrasar ou inviabilizar punições.
Redução do poder do Judiciário e instâncias inferioresJuízes de primeira instância normalmente lidam com flagrantes, medidas cautelares, etc. Tirar esse poder de instâncias menores concentra tudo no STF ou em dispositivos legislativos — favorecendo impunidade institucional.
Retrocesso democráticoO controle sobre autoridades deve vir de instituições independentes, não de colegas de partido ou de bancada. Essa PEC enfraquece o controle institucional e aumenta o risco de que o poder político se sobreponha ao Estado de Direito.
Abertura para abusos políticosO argumento de “abusos e atropelos” já usado pelos defensores pode virar justificativa para silenciar opositores, criar perseguição seletiva ou evitar responsabilização de membros do mesmo grupo político.

O discurso enganoso

  • Hugo Motta afirma que a PEC “não traz novidades” e que está apenas “retomando” textos constitucionais antigos.
  • Mas o texto atual amplia significativamente prerrogativas e imunidades além do que já existe. O argumento de “resgatar a Constituição de 1988” serve como verniz democrático para uma proposta que favorece elitização da justiça.
  • Fala-se também em “força do mandato parlamentar”, “mandato sagrado”, etc., como se o exercício do mandato isentasse responsabilidades criminais. Isso quebra comandas básicas de democracia: responsabilidade, transparência, accountability.

Reações contrárias

  • Partidos de oposição e especialistas em direito constitucional alertam que a medida pode enfraquecer o combate à corrupção, à impunidade e abrir espaço para arbitrariedades.
  • Há preocupação sobre o efeito prático: se esse tipo de proposta passar, pode impedir investigações em curso, evitar prisões urgentes e dificultar atuação do Ministério Público e da Justiça.

Conclusão

Essa PEC não é “resgate constitucional”; é construção de uma blindagem institucional. Defender mandatos com garantias é uma coisa; impedir responsabilização é outra muito diferente. Se for aprovada, essa proposta vai minar mecanismos de controle social, enfraquecer a Justiça e permitir que políticos corruptos ou envolvidos em crimes graves escapem de punições.

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1 comentário em “PEC da Blindagem: Hugo Motta propõe ampliar impunidade parlamentar — veja os pontos mais absurdos

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