Cúpula entre Lula e Trump na Malásia projeta redefinição comercial e geopolítica
Encontro agendado na Malásia reúne demandas do Brasil contra tarifas e sanções e expectativas de concessão dos EUA

Os presidentes Lula e Trump se preparam para uma reunião estratégica marcada para domingo, na cidade de Kuala Lumpur, na Malásia, durante os encontros regionais da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Esse será o primeiro encontro de alto nível entre os dois desde a crise tarifária que atingiu o Brasil, e surge como tentativa de reposicionar a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos.
De acordo com informações divulgadas, Trump admitiu que “sob as circunstâncias certas” estaria aberto a reduzir as tarifas de até 50% impostas ao Brasil, enquanto Lula entrou no encontro levando um pacote de reivindicações que vai além da economia. O líder brasileiro pretende discutir a reversão das sanções contra autoridades nacionais — inclusive ministros do Supremo Tribunal Federal —, bem como temas de comércio como etanol, terras raras, regulamentação das big techs e a política externa estadounidense para a América Latina.
A pauta brasileira se mostra ampla e estruturada:
- Tarifas e sanções: o Brasil exige a retirada ou redução das taxas punitivas e a revogação das sanções financeiras que afetam seus exportadores e autoridades.
- Materiais estratégicos: o acesso aos chamados “materiais críticos” como lítio, nióbio e terras raras figura como tema central para que o Brasil assuma uma posição de protagonista no Sul Global.
- Tecnologia e big techs: os EUA pressionam por regras para as plataformas digitais brasileiras, enquanto Brasília defende soberania regulatória e neutralidade das redes.
- Geopolítica na América Latina: Lula quer levar para a mesa assuntos que vão da Venezuela à Ucrânia, passando pela soberania marítima e os efeitos das sanções dos EUA na região.
Apesar das expectativas, fontes diplomáticas brasileiras afirmam que nenhum acordo será fechado no local — a reunião tem caráter de primeiro passo e planejamento. A ideia é reabrir o canal de diálogo, estabelecer agendas maduras e preparar um instrumento de cooperação que possa ser formalizado num segundo momento.
Para analistas de relações internacionais, o encontro simboliza uma virada geoestratégica: o Brasil não mais se coloca como ator secundário ante os Estados Unidos, mas como parceiro que exige condições. Se Trump ceder minimamente às reivindicações brasileiras, isso servirá de exemplo de que o país da América Latina aposta em autonomia e multipolaridade, e não em submissão.
No plano da sociedade, a esquerda progressista vê nesse gesto uma vitória simbólica: mostra-se que o Brasil impôs sua agenda e conquistou espaço na negociação. A mensagem para o eleitorado e o mundo é dupla — “soberania” e “cooperação”. Enquanto isso, as lideranças conservadoras partidaristas se veem isoladas: o palco da diplomacia revela que o Brasil segue em frente, mesmo se a direita tradicional permanece presa à retórica antissistema.
O encontro entre Lula e Trump na Malásia pode não ter tinta de assinatura, mas já marca o lançamento de um novo capítulo na relação Brasil–EUA: menos chantagem, menos paternalismo, mais diálogo estratégico.
