Gigantes selam pacto que pode enterrar guerra comercial, mas isolam países do Sul Global da mesa de decisão

Depois de anos de tensão, tarifas retaliatórias e ameaças cruzadas, China e Estados Unidos resolveram sentar à mesa — mas não para negociar a paz econômica mundial. Sentaram para proteger seus próprios interesses estratégicos, selando um acordo sobre a produção e o comércio de terras raras. E o recado para o resto do mundo é claro: a disputa acabou, mas só entre eles. Para o resto, resta obedecer às novas regras do jogo.

O pacto anunciado nesta sexta-feira pode abrir caminho para o fim da guerra comercial que marcou a última década, mas também inaugura uma nova era de duopólio tecnológico e geoeconômico. Acordaram entre si como vão explorar, processar e distribuir os minerais essenciais à produção de chips, carros elétricos, armas e satélites. Mas o que isso significa para países como o Brasil, detentor de reservas estratégicas, mas fora da mesa? Marginalização, dependência e submissão.


Acordo fecha mercado e define nova ordem tecnológica mundial

Terra rara não é só um nome bonito: é o coração da nova revolução industrial. De ímãs supercondutores a semicondutores, de turbinas eólicas a mísseis supersônicos — o mundo do futuro passa pelo controle desses elementos. E agora, quem manda nesse mercado são dois só: China e EUA.

O acordo prevê cooperação tecnológica, alinhamento regulatório e formação de estoques conjuntos, uma espécie de OPEP das terras raras sem o “P” de participação. É uma jogada de mestre geopolítica: os dois rivais estratégicos param de brigar e começam a dividir o lucro — e o poder.


E o Brasil? Riquíssimo em terras raras, pobre em soberania industrial

O Brasil possui uma das maiores reservas de terras raras do planeta. Mas nossa capacidade de refino é praticamente inexistente. O que isso significa? Extraímos o minério, exportamos cru e depois compramos de volta, caro, na forma de produto final — como se ainda estivéssemos presos à lógica colonial.

E agora, com China e EUA acertando os ponteiros, fica ainda mais difícil sonhar com protagonismo industrial. O acordo tende a criar barreiras invisíveis à entrada de novos atores, definindo padrões técnicos e comerciais que excluem os países que não têm parque industrial ou soberania científica consolidada.

Se o Brasil não agir com urgência, vai assistir ao futuro acontecer pela janela — enquanto vende o subsolo e importa o amanhã.


O futuro exige soberania tecnológica — não subserviência comercial

Não basta ter o minério — é preciso ter tecnologia, projeto nacional e vontade política. Sem uma política pública robusta para a industrialização das terras raras, o Brasil será apenas o almoxarifado da nova ordem digital.

A pergunta que se impõe é: o governo Lula vai assistir passivamente à formação desse novo eixo sino-americano ou vai liderar um consórcio latino-americano para disputar espaço e soberania?

Porque uma coisa é certa: se não ocuparmos esse espaço com inteligência, ele será ocupado por nós — como colônia de exploração.


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1 comentário em “China e EUA fazem acordo histórico sobre terras raras — e o Brasil que se vire

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