China desafia feminismo “woke” e propõe modelo alternativo de igualdade de gênero
Enquanto críticas ocidentais se concentram em cultura identitária, Beijing quer liderar uma agenda de gênero baseada em estabilidade social e “harmonia coletiva”

A China deu um passo audacioso no debate global sobre gênero: o governo e intelectuais alinhados começaram a criticar o que chamam de feminismo “woke” ocidental — e a apresentar outro caminho para igualdade de gênero, centrado em estabilidade social, harmonia comunitária e complementação de papéis.
Nos discursos públicos dos últimos meses, porta-vozes oficiais argumentam que o feminismo “woke”, com ênfase em identidades fluidas e confrontos culturais, gera fragmentação social e distúrbios de valores tradicionais. Para Beijing, a igualdade deve ser promovida através de políticas estruturais, educação, redistribuição de recursos e reformas no ambiente de trabalho — não por guerras simbólicas culturais.
Segundo essas vozes, o modelo chinês de gênero está prestes a se tornar alternativa internacional: mais pragmático, menos polarizado e com ênfase na coesão. Eles propõem que cada país deva adaptar as próprias condições socioculturais em vez de importar “modismos ideológicos” ocidentais.
Analistas interpretam essa estratégia como uma ofensiva simbólica da China no plano geopolítico: enquanto os EUA e Europa limpam as prateleiras culturais com disputas identitárias, a China investe no discurso de desenvolvimento técnico e estabilidade social como marca civilizatória.
A iniciativa pode ganhar tração, especialmente em países do Sul Global que enfrentam dilemas entre modernização institucional e conservação cultural. A China, nesse contexto, quer se posicionar não só como potência econômica, mas como referência ideológica alternativa.
É claro: o modelo é contestável. Críticos internos e externos apontam que o Estado chinês historicamente restringiu liberdade individual, controle social e direitos civis — questões que entram em tensão com qualquer “modelo estatal” de gênero. Será que essa proposta de “igualdade com limites” resiste às críticas de autoritarismo?
De todo modo, com esse movimento, Beijing busca luz própria no debate global de gênero: não como seguidora do discurso ocidental, mas como protagonista de uma proposta alternativa. Está em jogo mais do que ideologia cultural — é disputa de narrativas para os rumos do mundo.
Fonte: Revista Fórum