Carta diplomática do governo Lula cobra resposta dos EUA sobre tarifa de 50%
Carta enviada em 15 de julho manifesta "indignação" e reforça disposição para negociar solução "mutuamente aceitável"

Carta manifesta indignação e reforça disposição para negociação
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou, em 15 de julho de 2025, uma carta oficial ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio norte-americano, Jamieson Greer. No documento, assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e pelo chanceler Mauro Vieira, o Brasil expressa “indignação” com a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada em 9 de julho e com vigência marcada para 1º de agosto.
O texto critica a medida por seu potencial de causar prejuízos a setores-chave das duas economias, e lembra que, nos últimos 15 anos, o superávit americano com o Brasil soma cerca de US$ 410 bilhões, contrariando a justificativa dos EUA. A carta relembra que, em 16 de maio, o Brasil havia encaminhado uma proposta confidencial de negociação, até hoje sem resposta do governo norte‑americano.
O comunicado reafirma a disposição brasileira de dialogar e ressalta que o governo permanece “pronto para negociar uma solução mutuamente aceitável” para preservar a histórica parceria bilateral e mitigar os impactos negativos.
Leia a íntegra da carta:
No contexto do anúncio por parte do Governo norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos brasileiros para os EUA, o Vice‑Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram ontem, dia 15 de julho, carta ao Secretário de Comércio dos EUA Howard Lutnick e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:
1. O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1º de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.
2. Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa‑fé com as autoridades norte‑americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte‑americano.
3. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.
4. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.
5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral.
(Carta enviada em 15 de julho de 2025)
Contexto e próximos passos
A medida dos EUA integra uma escalada tarifária que começou em abril, quando Washington impôs taxas de até 10% sobre várias importações, incluindo produtos brasileiros . Em reação, o Brasil pode acionar a Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada em abril, que prevê contramedidas proporcionais em caso de medidas unilaterais.
Empresários já solicitaram extensão do prazo de aplicação da tarifa, argumentando que o prazo até 1º de agosto é exíguo. O governo Lula demonstra preferência pela diplomacia e pelo diálogo técnico, mas deixa clara a disposição de recorrer à lei se necessário.