Na véspera da sessão que mostrará se há punição real para o golpe, o ex-presidente enfrenta divisão entre estratégia simbólica e risco de espetáculo derrotista

A poucos dias do julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal sobre a trama golpista, uma profunda fissura ameaça a narrativa bolsonarista. A disputa atravessa família, aliados e setores do PL: ir ou não ao plenário do STF virou palco de confronto interno — entre quem aposta na teatralização simbólica e quem teme cair em armadilha político‑jornalística

No campo da obstrução ideológica, a ala radical sustenta que a presença física do ex‑presidente diante dos ministros reforçaria a narrativa de “perseguição política” e endossaria o enfrentamento contra as instituições democráticas — estratégia para inflamar a base fiel. Para esses parlamentares, a sua ausência seria sinônimo de fraqueza e derrota antecipada.

Por outro lado, a ala pragmática — junto com parte da família — aposta no silêncio e no cuidado. Michelle Bolsonaro defende que o marido acompanhe os desdobramentos de casa, preservando sua saúde fragilizada por crises recorrentes de soluço que podem evoluir para vômitos durante longas sessões. Flávio, tocado pela articulação política do clã, também recomenda evitar o confronto público, argumentando ser uma estratégia mais prudente. Já Carlos e Eduardo representam os mais radicais e mantêm pressão pela ida ao STF.

Nos bastidores, advogados refutam que a presença no tribunal possa ter peso jurídico — tratam qualquer ida como ato simbólico, sem impacto legal real no veredito dos ministros. A luta acontece em outro terreno: da imagem, da coragem ou da derrocada. Um duelo entre quem quer transformar o palco da Justiça num palanque, e quem teme que esse ato vire material de humilhação pública.

O impasse escancara a fragilidade do núcleo bolsonarista: mais obra de marketing que estratégia política. Em vez de levantar bandeiras, veem sua coesão ruir num choque entre quem ainda vê o ex-presidente como líder indomável e quem sabe que o pânico é sinônimo de derrota. O julgamento, que começará em 2 de setembro, será o momento de verdade — e eles, expostos ao crivo nacional.

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