Bolsonaristas recorrem a fake news sobre Marajó para atacar Felca e fugir do debate
Distorções sobre exploração infantil no Pará são usadas como escudo midiático contra denúncias legítimas, servindo para deslegitimar o enfrentamento à adultização digital e bloquear regulação nas redes.

Narrativas fabricadas sobre abusos sexuais de crianças na Ilha de Marajó ganharam repercussão nacional rapidamente — mas esse abastecimento midiático não foi espontâneo. Apostando no pânico moral, apoiadores de Jair Bolsonaro ressuscitaram histórias sem comprovação, forjadas inicialmente em boatos da ex-ministra Damares Alves. Disse, sem provas, que crianças tinham dentes arrancados para facilitar violência sexual ou eram traficadas. O Ministério Público Federal classificou tais afirmações como fake news e exigiu retratação pública com indenização de R$ 5 milhões.
Mesmo reconhecendo que o Marajó sofre com vulnerabilidades reais — 4 de seus municípios têm dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, isolados e com baixos recursos de assistência —, lideranças locais reprovaram o sensacionalismo. Combatente dos direitos humanos na região, o presidente do CMDCA de Melgaço (PA) lamentou que o sofrimento vire espetáculo midiático e advertiu que crimes infantis acontecem em todo o país, sem estigma estético para exploração.
O novo surto de desinformação foi impulsionado com dinheiro público e alcance artificial: levantamento da Agência Pública apurou que políticos bolsonaristas pagaram cerca de R$ 100 por post, somando até 80.000 visualizações. Deputados estaduais como Coronel Neil (PL) geraram milhares de impressões, enquanto cantores e influenciadores com agendas religiosas inflaram ainda mais a disseminação dessas mentiras como pancadas contra o youtuber Felca — que denunciou a “adultização midiática” de menores por influenciadores como Hytalo Santos.
Felca, que pauta regulamentação de redes sociais, virou alvo discursivo: agora, a narrativa construída pela direita é de que ele omite o Marajó enquanto finge lutar pela infância virtual. É o velho truque da distração política: usar a tragédia de uma região vulnerável para desqualificar quem denuncia violência digital — enquanto se mantêm sem controle os crimes que ocorrem sem palco, mas deixam marcas reais no cotidiano das crianças.
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