A ofensiva contra o Pix expõe uma trama neoliberal a favor dos EUA – por Leonardo Stoppa
Debate sobre fim do Pix e aumento do IOF expõe estratégia bolsonarista que favorece lucros dos EUA e penaliza o consumidor brasileiro

Bolsonaristas agora defendem o fim do Pix — um sistema de pagamento que emancipou o Brasil da tutela financeira norte-americana. A proposta está ligada a críticas ao IOF, como se ambos fossem medidas isoladas, mas estão profundamente conectadas.
O Pix substituiu parte do uso do cartão de crédito — esse lastro eletrônico que abocanha cerca de 5% do valor das vendas no varejo — e drena recursos que antes fluíam para empresas como Visa e Mastercard, que ficam nos EUA. Ao reduzir o uso do cartão, o Pix diminui o envio de capital para o exterior — algo que irrita Washington, especialmente a administração Trump .
Por que o Pix incomoda Trump e bolsonaristas?
- Porque ele romper com a lógica dos meios de pagamento que geram lucros automáticos para bancos e grandes bandeiras internacionais.
- Porque fortalece a soberania monetária, ao evitar que parte da renda dos brasileiros viaje para os EUA a cada compra.
Como o fim do Pix e o aumento do IOF se cruzam?
- Extinguir o Pix empurra os consumidores ao cartão de crédito, com altas taxas.
- O IOF, quando aumenta, desestimula uso do cartão, favorecendo o retorno ao pagamento imediato — seja em espécie, seja via Pix.
- Ou seja, mexer no IOF sem ataque ao Pix mantém o sistema de intermediários internacionais, enquanto atacar o Pix sem controle do IOF perpetua a dependência tecnológica financeira.
Qual a conexão com o Brasil barato?
Sem as taxas dos cartões nas cestas de consumo — que são embaladas no preço final — produtos poderiam sim, “voltar a custar R$ 100” em vez de R$ 105. Se o varejo deixasse de suportar as comissões elevadas, haveria redução direta no preço ao consumidor.
Um golpe contra os interesses nacionais
A combinação “acabar com o Pix + manter o IOF baixo” favorece apenas os bancos e plataformas financeiras estrangeiras, mas prejudica o consumidor. É um modelo que limita a autonomia estatal. E abre brechas para que interesses estrangeiros usem o Brasil como fonte de lucros quase sem esforço.
Chamado à mobilização
Nesse cenário, a defesa do Pix e o reajuste do IOF por Lula perdem o sentido se não vierem juntos como eixo de soberania. Sem isso, qualquer mudança pode significar renúncia silenciosa do Estado diante da ofensiva americana. O combate à “obsessão de Trump com o Brasil” exige, acima de tudo, blindar nossa moeda digital nacional — e não abrir mão dela.
Apelo final: é essencial encarar essa disputa como parte de uma luta maior por autonomia financeira. Defender o Pix não é tecnicismo — é reafirmar o direito de o Brasil controlar seu próprio fluxo de riqueza.