Vídeo revela que Exército ajudou a preparar terreno para acampamento golpista após derrota de Bolsonaro
Imagens mostram máquinas usadas por militares nivelando terreno onde opositores tentaram golpe montado em Brasília

Vídeos obtidos pelo Estadão e divulgados pelo DCM mostram que militares do Exército participaram ativamente da terraplenagem em um acampamento golpista montado em frente ao quartel-general em Brasília, logo após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022.
As imagens captadas em 18 de novembro daquele ano exibem retroescavadeiras e caminhões operados por militares nivelando o solo onde já estavam instaladas barracas e faixas com ataques ao STF e ao processo eleitoral. O trabalho incluiu remoção de lama e regularização do terreno, facilitando a montagem da estrutura dos manifestantes.
Procurado, o Exército alegou que o uso das máquinas visava “manutenção do local” e correção de desníveis, em área sob jurisdição militar. No entanto, os registros revelam uma atuação que ultrapassa simples limpeza: há indícios de que o aparato estruturou o acampamento pró-golpe.
Os vídeos foram entregues à PGR e à Polícia Federal como parte de uma proposta de colaboração premiada do blogueiro Wellington Macedo, preso por ordem do STF em dezembro de 2022 por envolvimento em tentativa de atentado em Brasília. A defesa nega que ele tenha ligação com o episódio da bomba ou com os responsáveis pelo acampamento.
Investigadores apontam que o apoio militar explícito reforça a hipótese de que o golpe de 2022 contou com auxílio institucional de dentro das Forças Armadas.
O então comandante do Exército, general Freire Gomes, admitiu ter sido consultado por Bolsonaro sobre um decreto de teor golpista, mas negou participação. Apesar da presença das máquinas nos vídeos, ele não foi formalmente acusado no caso.
Este episódio amplia o espelho das ações golpistas em Brasília: não bastava invocar mobilização popular — era preciso estruturar campos aliados, com recursos estatais. Agora, cabe à PGR, à PF e ao STF aprofundar apurações para expor até onde ia o conluio entre militares e extrema-direita.