Bolsonaro afirma que Michelle disputará o Senado — não a Presidência — e Flávio a desqualifica, dizendo que ela só age por “revolta com o marido em cativeiro”

Brasília — A simples possibilidade de Michelle Bolsonaro disputar eleições em 2026 despertou uma conflagração interna ao mostrar não apenas resistência machista, mas também fissuras ideológicas no bolsonarismo. Jair Bolsonaro reagiu afirmando que ela será candidata ao Senado, e não ao Planalto, como forma de limitar suas pretensões políticas.

Desde 2024, quando foi questionado sobre a hipótese de Michelle concorrer, Jair Bolsonaro reagiu com comentários machistas e condescendentes. Em uma das vezes, ele afirmou que ela “fala muito alto” e repetiu brincadeiras sobre pedir dinheiro — atitudes que reforçam uma posição de silenciamento e controle do protagonismo feminino.

Bolsonaro declarou a aliados que não quer que o debate sucessório seja disputado “sem ele no centro” e que Michelle deve concorrer apenas para o Senado — atitude interpretada por interlocutores como tentativa de recuar num cenário de instabilidade para o clã.

Não demorou para que Flávio Bolsonaro aparecesse para desqualificar as ambições políticas de sua madrasta: “Que mulher não ficaria revoltada com o marido colocado em cativeiro, como meu pai?”, disse ele, tentando reduzir escolhas políticas a emoções pessoais — reforçando um teto simbólico sobre mulheres na política.

A reação negativa da ala masculina da direita — transformando uma possibilidade legítima de protagonismo feminino em “revolta emocional” — revela o machismo camuflado que ainda pauta disputas no campo conservador. Não se trata apenas de quem se lança como candidata, mas de quem pode.

Essa disputa também escancara a falta de coesão interna do bolsonarismo. Se há inquietação com Michelle, é porque o “núcleo duro” masculino percebe nos seus passos uma ameaça ao controle da sucessão. A direita, que se gaba de unidade ideológica, demonstra fragilidade quando confrontada com uma mulher que pode protagonizar o espaço público.

É sintomático: apoiar Michelle implicaria em subverter pactos patriarcais internos, arriscar alianças tradicionais e enfrentar resistências ideológicas criadas para manter o poder masculino intacto. Quando parte da direita reage mal à sua possível candidatura, está dizendo que a unidade deles depende de excluir mulheres de protagonismo.

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