Redação

Uma agenda pessoal do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Jair Bolsonaro, foi apreendida e integra o inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). O documento, com cerca de 200 páginas, revela informações sobre operações da Abin, movimentos do governo anterior e percepções internas sobre a gestão de Bolsonar.

Entre os registros, destaca-se uma anotação de 25 de janeiro de 2022, apontando que a Abin estaria “levantando cubanos, infiltrados na USP, para espionagem da área estudantil”.

A agenda também traz menções a investigações internas, como a sugestão de que a Abin “investigar o Coaf” — órgão responsável por monitorar movimentações financeiras suspeitas no gabinete do então senador Flávio Bolsonaro, em fevereiro de 2020.

Durante a pandemia de Covid‑19, Heleno inseriu críticas ao comportamento do presidente, anotando que Bolsonaro “desdenha do vírus”, que “nada está bom” e que haveria um “rombo na popularidade” do então mandatário. Ele ainda registrou que o presidente “teria que tomar vacina”.

Há ainda menções à Polícia Federal: que estaria “preparando uma sacanagem grande”, sem explicar o motivo, e que a corporação deveria se subordinar diretamente ao presidente — nota que se insere num período marcado por atritos entre Moro, Bolsonaro e a PF.

Outro episódio sensível envolve Jair Renan Bolsonaro — o “04” — e um carro elétrico presenteado por empresários, avaliado em R$ 90 mil. Heleno sugere que a Abin paralela foi mobilizada para proteger o filho do presidente diante de investigações em curso. Ele chegou a registrar que, apesar da notícia de imprensa, o veículo estava com outra pessoa, e que “é atribuição da Abin verificar um fato” em casos envolvendo a segurança de familiares do chefe de Estado.