Delírio: Eduardo Bolsonaro aposta em sanções na Europa contra Moraes após Magnitsky
Deputado articulou tentativa de replicar sanções por Lei Magnitsky no Parlamento Europeu, mas recebeu apoio insignificante e foi taxado de “irresponsável” — sem moral nem estrutura internacional

O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL‑SP) lançou esta semana a narrativa de que tornaria “sanções contra Alexandre de Moraes na Europa” a sua “prioridade número um” nos próximos meses — repetindo em lives e eventos que articularia apoio entre partidos de direita no Parlamento Europeu e governos amigos para replicar a ação da Lei Global Magnitsky contra o ministro do STF.
Mas não há respaldo. O movimento conta com apenas 16 eurodeputados (2 % das cadeiras) — pertencentes a partidos de extrema-direita como PiS, Chega, Vox e Rassemblement National — e nenhuma chancela oficial em Bruxelas. Fontes diplomáticas europeias declararam que, sem consenso entre os 27 países-membros, sanções não saem do papel — e, até o momento, não há qualquer indicativo de que o bloco tenha sequer aberto diálogo formal sobre o tema.
Dentro do STF há claro desalento. Integrantes da corte e diplomatas brasileiros qualificaram a movimentação de Eduardo como “irresponsável” e contraditória com o conceito de soberania democrática — afinal, tentar internacionalizar uma disputa interna, perguntaram, não é dar legitimidade a pressões externas?
No Brasil, Moraes reagiu com firmeza: reafirmou que não deixará seu julgamento ser pautado por interferências globais — manifestos e sanções do exterior não alteram o curso da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda assim, Eduardo se coloca como interlocutor simbólico do Trumpismo no Ocidente, agradecendo nominalmente ao eurodeputado Dominik Tarczynski nas redes sociais por enviar carta à alta representante da UE, Kaja Kallas.
Sem conquistas, apenas sinais
Enquanto Eduardo clama ter “pistas fortes de acerto em Portugal, Itália e Hungria”, o que sobra são afirmações soltas em lives e recortes de apoio minúsculo. Não há provas de que algum governo ou autoridade europeia sequer tenha se disposto a discutir sanções — o assunto sequer aparece em pautas oficiais.
Mesmo entre quem simpatiza com críticas ao STF, há má vontade crescente com a estratégia: usar instrumentos de direitos humanos para sustentar narrativa bolsonarista de vitimização tem sido visto por especialistas como abuso interpretativo, que mina o mecanismo Magnitsky e fragiliza a credibilidade dessas sanções.
Se houvesse base sólida, não dependeria de um único eurodeputado extremista como interlocutor de concierge político. Se houvesse credibilidade, a diplomacia brasileira ou entidades internacionais não questionariam a iniciativa. E se houvesse algo concreto no projeto, não precisaríamos deste circo de narrativas repetidas em eventos de direita interna com poucos espectadores.
O final provável
Mesmo com sanções americanas agora em vigor (em sua versão mais branda, já que Moraes não possui ativos nos EUA), o grau de alinhamento político entre Estados Unidos e União Europeia é baixo. Não há qualquer anúncio oficial europeu para pressão contra Moraes — nem ao menos na agenda conservadora moderada, que dá prioridade à estabilidade institucional brasileira.
Assim, o show de Eduardo Bolsonaro se revela vazio: retórica inflada, apoio limitado e mais um capítulo de tentativa de transformar derrota interna em ruído midiático externo. Se for provado atuação simbólica, com dois ou três assinantes em país isolado — aí sim: terá cumprido seu mínimo de “conquista internacional”. Até lá, segue invisível, sem moral e sem chance real de transformar seu empenho em sanção.