Coronel admite existência da “carta do golpe”, mas nega participação pessoal na redação
Militar confirmou que circulou documento que pressionava o alto comando do Exército, mas afirmou que não participou da elaboração e discordou do teor.

O coronel Bernardo Romão Correa, durante depoimento no Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (28 de julho de 2025), reconheceu a existência da chamada “carta do golpe”, enviada ao alto comando do Exército pela maioria dos oficiais superiores da ativa. Ele admitiu que repassou uma minuta do documento, mas ressaltou que não foi autor do texto nem participou de redações em reuniões formais.
Conforme o militar relatou, o documento circulou dentro do grupo e foi requisitado por um colega identificado como Bastos, o qual atuou como canal de comunicação entre oficiais. Romão Correa recuperou a minuta e repassou como solicitado — garantindo, porém, que não houve discussão ou edição durante encontro militar no dia 28 de novembro de 2022 em Brasília. E sublinhou: ele discordava do conteúdo, considerando-o um ato de indisciplina.
O interrogatório arrancou reações tensas na sala do STF. A defesa pediu esclarecimentos sobre a origem do documento e o contexto em que foi gerado — apontando que, se a carta foi elaborada por um grupo coletivo, o foco individual da denúncia precisa ser reavaliado. Romão Correa manteve que sua participação se limitou à entrega, não à concepção ou redação.
Especialistas apontam que a existência dessa minuta aumenta o peso das suspeitas de pressão institucional sobre o alto comando do Exército, parte central da investigação da Operação Contragolpe, que desarticulou núcleos golpistas dentro das Forças Armadas.
A carta mencionada, segundo o relatório de investigação, teria sido usada para tentar sufocar a autonomia institucional e cooptar respaldo militar à tentativa de golpe — incluindo ameaças e imposições de cunho político e disciplinar.
A fala do coronel expõe o contorno coletivo das ações bolsonaristas que envolveram pressão institucional para favorecer rupturas democráticas. Ao negar autoria e posicionar-se contra o teor, ele tenta dissociar responsabilidades diretas, ao mesmo tempo em que confirma a materialidade e circulação do instrumento planejado.