Bolsonaro exibe tornozeleira e invoca “lei de Deus” em ato de desafiador
Réu por golpe, ex-presidente se apresenta como mártir religioso na Câmara ao mostrar tornozeleira após advertência do STF

Bolsonaro transforma sua condenação em narrativa cristã de mártir, desafiando o STF com um discurso emocional e autoritário. O episódio destaca a escalada de ocupação política das instituições do Judiciário — na tentativa de enquadrar o Estado de Direito como inimigo da fé — e sinaliza um conflito ideológico que ameaça a fragilizada democracia brasileira.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no inquérito da “trama golpista”, compareceu nesta segunda-feira (21/07/2025) à Câmara para uma coletiva política calculada, onde mostrou a tornozeleira eletrônica posta por ordem do ministro Alexandre de Moraes. O gesto foi acompanhado de um discurso teológico-populista:
“O que vale para mim é a lei de Deus”.
Bolsonaro chamou de “máxima humilhação” o uso do dispositivo, argumentando que é alvo de perseguição judicial. Ele negou todas as acusações – corrupção, desvio de recursos, homicídio, tráfico de drogas – e pediu resistência àquilo que chamou de “covardia do Judiciário”.
O ato foi parte de uma ofensiva do PL e seus aliados parlamentares, que se articulam em comissões para contra-atacar o STF, sob a liderança de deputados como Gustavo Gayer, Cabo Gilberto e Zé Trovão. Eles se posicionam contra o que chamam de “abuso de poder”, apesar de se apresentarem como vítimas de exceção institucional.
As medidas cautelares impostas por Moraes – tornozeleira, recolhimento domiciliar, proibição de uso das redes, isolamento diplomático e bloqueio de contatos – são parte de um cerco judicial sem precedentes ao bolsonarismo. No entanto, o ex-presidente busca transformar esse cerco em símbolo e bandeira política, usando-se da Bíblia para apelar a segmentos religiosos e mobilizar sua base.