Bolsonaro se atribui criação do Pix e se oferece para negociar com Trump, mas iniciativa vem de Temer e BC
Ex-presidente diz ter idealizado o Pix para reduzir lucros dos bancos e propõe mediação com Trump; especialistas desmentem ligação direta com seu governo

Jair Bolsonaro voltou a reivindicar a autoria do Pix nesta quinta-feira, 17 de julho de 2025, durante visita ao Senado. Em entrevista à imprensa, o ex-presidente disse: “O Pix tem nome: Jair Bolsonaro”, alegando que o sistema gerou impacto de mais de R$ 20 bilhões nos bancos — e que ele nunca o taxou. Bolsonaro aproveitou para se colocar à disposição para negociar com Donald Trump, oferecendo-se como mediador caso o republicano decida impor tarifas de 50% a produtos brasileiros.
Porém, a narrativa enfrenta forte contestação. Reportagem da IstoÉ revela que o projeto do Pix começou em 2016, durante o governo de Michel Temer, coordenado por servidores do Banco Central. O sistema foi oficializado apenas em outubro de 2020, já sob Bolsonaro, mas decorrente de um longo trabalho técnico sem interferência executiva.
Dados oficiais confirmam: a equipe técnica do Banco Central iniciou em 2018 um grupo de trabalho específico para pagamentos instantâneos. O Pix só foi aberto para testes em outubro de 2020 e liberado para o público em 16 de novembro daquele ano.
Bolsonaro tenta faturar politicamente com a marca que hoje se tornou o principal meio de pagamentos do Brasil. Mas técnicos e entidades como o Sinal — Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central — afirmam que o sistema é fruto de um processo institucional, não de autoria pessoal.
Além disso, a proposta de Bolsonaro de mediar negociação com Trump reflete a ofensiva comercial dos EUA — que abriu investigação sobre práticas do Pix, acusando o Brasil de criar vantagem injusta em pagamentos eletrônicos. Mesmo assim, a iniciativa de Bolsonaro esbarra na burocracia e na guerra política: ele está com o passaporte retido desde 2023 por ordem do STF, o que inviabiliza qualquer viagem diplomática internacional .
Esses episódios revelam o contraste entre a tentativa de apropriação política do Pix e a realidade técnica e institucional que o originou. A narrativa presidencial colide com dados factuais, servindo de alerta sobre “fake autorias” e a crise de legitimidade dos discursos oficialistas.