Homem ligado ao PCC é detido em São Paulo. Prisão é tratada como vitória do Estado, mas serve também à velha encenação moralista da Lava Jato.

Em São Paulo, a Polícia Civil prendeu nesta segunda-feira (7) um homem identificado como um dos envolvidos na tentativa de sequestro do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR). Segundo a investigação, o suspeito — ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) — seria o responsável por fornecer armamento à quadrilha que pretendia capturar Moro ainda em 2023. A prisão ocorreu na zona sul da capital paulista e foi anunciada com alarde por autoridades que — não por acaso — orbitam o mesmo campo político do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.

PCC, Moro e o teatro da segurança seletiva

Vamos deixar algo claro: combater o crime organizado é dever do Estado e não pode ser relativizado. Mas a espetacularização do episódio que envolve o ex-juiz revela muito mais sobre os bastidores da política e da comunicação institucional do que sobre o combate real ao crime. É curioso que a estrutura de segurança e inteligência do país pareça funcionar com velocidade olímpica quando se trata de Sergio Moro — o mesmo juiz que, no passado recente, foi conivente com grampos ilegais, prisões arbitrárias e uma guerra jurídica que desmontou a indústria nacional em nome de uma cruzada política.

Onde está essa mesma eficácia quando os alvos são os jovens pretos da periferia?

A seletividade que grita: Moro merece mais polícia que o povo?

A prisão do suspeito de planejar o sequestro é apresentada como um exemplo de eficiência policial. E pode até ser. Mas é também mais um capítulo do enredo onde o aparato do Estado se movimenta com intensidade para proteger figuras do alto escalão — enquanto comunidades inteiras vivem sob o domínio do medo, do tráfico e da milícia sem receber sequer a visita de um delegado.

Sergio Moro, vale lembrar, foi ministro de um governo que desmontou políticas de segurança pública baseadas em inteligência, preferindo o populismo penal, o armamento civil e a militarização da política. Agora, ao ser alvo do mesmo tipo de violência que o bolsonarismo ajudou a fomentar, Moro reaparece como símbolo de uma “insegurança” que serve mais à narrativa do que à realidade.

Prisões pontuais, problemas estruturais

A prisão em São Paulo precisa ser compreendida no seu devido contexto. O PCC não é uma organização “clandestina” no sentido romântico — ela é uma estrutura empresarial do crime que atua em várias frentes, inclusive corrompendo agentes do próprio Estado. Prender um membro do grupo é importante, mas não muda o fato de que o crime organizado cresce no vácuo da ausência de Estado nas regiões mais vulneráveis.

E essa ausência tem nome e sobrenome: políticas neoliberais, sucateamento dos serviços públicos e a criminalização da pobreza.

O sequestro da narrativa

Por fim, é preciso dizer: o maior sequestro em curso no Brasil não é o de Moro — é o da narrativa. Um ex-juiz parcial, declarado suspeito pelo STF, que destruiu reputações com base em PowerPoints e delações premiadas, agora se coloca como vítima de um sistema que ele mesmo ajudou a desestruturar.

Não há inocentes nesse tabuleiro. Mas há sim prioridades distorcidas — e a população brasileira segue pagando a conta.


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1 comentário em “Polícia prende suspeito de tentativa de sequestro de Sergio Moro — mas a narrativa segue intoxicada

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