Antes da monarquia dos anos 60 e da Revolução Islâmica de 1979, o Irã foi palco de um golpe orquestrado por potências ocidentais que redefiniu seu destino político.

Introdução

O golpe de 1953 no Irã, executado por decisões da CIA e do MI6, derrubou o governo popular eleito democraticamente de Mossadegh, reinstalou o xá e restabeleceu controle externo sobre o petróleo iraniano. O evento forjou o ressentimento que desembocaria na Revolução Islâmica de 1979 e nas tensões contemporâneas entre Teerã e o Ocidente.


1. Domínio britânico do petróleo antes de 1953

Desde o início do século XX, a indústria petrolífera iraniana estava sob controle da Anglo‑Iranian Oil Company (posteriormente BP), sob domínio majoritário britânico. Em 1951, Mossadegh nacionalizou a produção de petróleo, criando a National Iranian Oil Company e despertando resposta firme de Londres, que iniciou bloqueios comerciais e desmobilização de técnicos estrangeiros.


2. Crise de Abadan e isolamento econômico

O embargo britânico resultou em severa queda na produção petrolífera, com interrupções no abastecimento da refinaria de Abadan — então a maior do mundo — e dificuldades financeiras para o governo iraniano.


3. Operação Ajax/TPAJAX: planejamento do golpe

Em 1952, EUA e Reino Unido lançaram uma operação secreta com o codinome Ajax (TPAJAX para os americanos, Boot para os britânicos). A CIA enviou Kermit Roosevelt Jr. ao Irã, com a missão de financiar protestos, instigar violência urbana e cooptar militares. Em agosto de 1953, fascinados por propaganda e corrupção patrocinada, tropas apoiadas por manifestantes reintegraram o xá e derrubaram Mossadegh.


4. Acordo do Consórcio de 1954

Após o golpe, foi firmado o Consórcio de 1954, dividindo os lucros do petróleo nacionalizado entre empresas ocidentais (britânicas, americanas, francesas e holandesas) e a exploração estatal. Apesar da aparente divisão de renda, o controle operacional e a gestão permaneceram sob influência externa.


5. Geopolítica da Guerra Fria e regime autoritário

O golpe foi justificado como estratégia anticomunista, mas resultou na consolidação de um regime autoritário pró-Ocidente, com repressão política organizada pela SAVAK. O episódio se tornou modelo para operações da CIA, consolidou o Irã como aliado estratégico dos EUA e engendrou ressentimentos que culminariam na Revolução Islâmica.


6. Legado geopolítico e tensões contemporâneas

A memória do golpe alimenta narrativas oficiais iranianas sobre intervenção estrangeira e legitima a busca por dissuasão nuclear. Nas negociações mais recentes, Teerã aponta esta história como prova irrefutável de que seu programa nuclear se destina a garantir soberania, não gerar ameaça.


Pergunta retórica

Se Mossadegh defendia soberania nacional, por que Ocidente articulou sua derrubada — reconfigurando o controle do petróleo e traçando o script político do Irã moderno?


Conclusão

O golpe de 1953 não foi apenas um episódio da Guerra Fria: foi a base sobre a qual se ergueu a República Islâmica. Derrubou a democracia emergente, reinstalou o poder autoritário do xá e reentregou o petróleo iraniano às companhias ocidentais. Ignorar essa origem é não entender os conflitos estratégicos e diplomáticos que dividem o Irã e o Ocidente até os dias atuais.


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