Ciro Gomes ensaia retorno e acena para 2026: resistência ou sobrevida política?
Após meses em silêncio, ex-ministro reaparece em tom de alerta e sinaliza que pode voltar à disputa em “situação extrema”. Mas quem ganha com esse retorno?

“Se o Brasil estiver em perigo extremo, eu volto.” Com essa frase enigmática, Ciro Gomes tenta reocupar um espaço que ele próprio abandonou após amargar uma votação pífia em 2022. Agora, ensaia um retorno embalado pelo discurso da catástrofe nacional iminente — como se dele dependesse a salvação.
Em primeiro lugar: o timing da volta
Não é coincidência que Ciro retome a palavra exatamente quando a direita tradicional está em ruínas, os bolsonaristas acuados por processos judiciais, e a extrema-direita sem uma candidatura viável para 2026. Com Bolsonaro inelegível, Zema apagado, Tarcísio recuando e Moro sob fogo cruzado, há um vácuo que Ciro tenta ocupar. Mas ocupar com o quê?
Ciro não traz um projeto novo. Traz ressentimento. Traz rancor mal resolvido com a esquerda que não o abraçou, e uma tentativa de seduzir setores médios órfãos da tal “terceira via” — esse monstro imaginário que nunca se ergueu.
Por outro lado: a “situação extrema” já chegou?
Afinal, qual seria o gatilho para esse retorno? Uma suposta “emergência nacional” — termo vago que pode significar tudo e nada. Mas convenhamos: a situação já não foi extrema o suficiente com Bolsonaro sabotando vacinas, tentando um golpe de Estado e entregando o orçamento às mãos do Centrão?
Ciro assistiu a tudo isso e, ainda assim, escolheu o silêncio. Agora que as instituições retomam o rumo, que Lula pacifica o país e reconstrói o diálogo internacional, Ciro se apresenta como o “salvador” de última hora. Só que o navio não está afundando. Ele apenas não é o capitão.
Acresce que: a volta de Ciro pode ajudar quem?
Quem se beneficia com o retorno de Ciro Gomes? A esquerda? Difícil. A direita? Talvez. Porque todo voto que ele capta vem da crítica ao campo progressista, nunca do antipetismo bolsonarista. É um discurso que alimenta o divisionismo, em nome de um personalismo ferido.
Mais uma vez, o ex-ministro apresenta-se como “homem de ideias”, mas pouco diz sobre organização política, mobilização de base ou alianças concretas. Sua retórica é inflamável, mas não inflama as ruas — apenas os estúdios de podcasts.
Ciro e a ilusão da “solução técnica”
Ciro ainda aposta no fetiche tecnocrático. Em cada entrevista, apresenta diagnósticos precisos — mas soluções que exigem um Congresso que ele próprio repele. Seu projeto de país é bonito no papel, mas não resiste ao teste da política real. E política, para além da técnica, é construção coletiva, é disputa de hegemonia. Não se faz no grito. Nem na arrogância.
Conclusão: retorno ou última cartada?
A volta de Ciro Gomes, longe de ser um sopro de renovação, parece mais uma tentativa desesperada de manter-se relevante. Seu discurso aponta para um país em colapso — mas talvez quem esteja em colapso seja a própria carreira de Ciro.
Se realmente quiser contribuir, que seja como articulador de uma frente ampla contra o neofascismo. Mas para isso, precisaria renunciar ao papel de mártir e aceitar ser apenas mais um soldado — e não o general da própria vaidade.
A hora é de reconstrução coletiva. Não de salvadores solitários.
Em primeiro lugar o Ciro não é confiável para esquerda, nem para a direita e muito menos para extrema-direita. É um lobo solitário à procura do espaço perdido pelas suas próprias ações e contradições. Não é metralhando todo muito e sendo omisso quando deveria tomar uma posição que vai recuperar o prestígio perdido. Esse não faz falta pra ninguém.