Silas Malafaia critica Donald Trump por declarações contra imigrantes, expondo contradições de uma direita que sempre aplaudiu o ex-presidente dos EUA.

Malafaia critica Trump: o racha que expõe a hipocrisia bolsonarista

Silas Malafaia, um dos principais nomes do bolsonarismo evangélico, resolveu atirar — e mirou justamente em seu até então ídolo internacional: Donald Trump. Em vídeo recente, Malafaia demonstrou “indignação” com o discurso xenófobo de Trump contra imigrantes latinos, acusando o ex-presidente americano de “generalizar” e de atacar injustamente trabalhadores honestos. Só que tem um detalhe incômodo aí: Malafaia parece ter esquecido que o bolsonarismo inteiro foi forjado na mesma cartilha trumpista.

Em primeiro lugar, convém lembrar que o discurso de Trump sobre “imigrantes violentos” e “invasão na fronteira” não é novidade. Ele o vem repetindo desde 2015, com apoio entusiástico da extrema-direita brasileira, inclusive de Malafaia. A pergunta que não quer calar é: por que só agora ele resolveu se revoltar? O vídeo não responde — mas os sinais de um racha entre o trumpismo e a ultradireita brasileira estão se multiplicando.

Hipocrisia em dose dupla

Por outro lado, não dá para ignorar a ironia: o mesmo Malafaia que agora defende latinos contra o preconceito foi o porta-voz da intolerância no Brasil. Atacou nordestinos, militou contra refugiados venezuelanos, e aplaudiu políticas xenófobas durante o governo Bolsonaro. Ou seja, o pastor agora parece “descobrir” a xenofobia… quando ela afeta diretamente o público evangélico latino nos EUA — aquele mesmo que mantém suas igrejas nos subúrbios americanos.

Acresce que há também um cálculo político evidente. A base evangélica brasileira nos Estados Unidos — hoje significativa, inclusive em doações — ficou escandalizada com as falas de Trump. Malafaia, percebendo o desgaste, tenta se descolar do aliado para preservar sua influência internacional. É um gesto menos de princípio e mais de sobrevivência.

A crise do bolsonarismo globalizado

Essa crítica de Malafaia expõe algo maior: o bolsonarismo, ao copiar o trumpismo, herda também suas contradições. Trump precisa manter um discurso duro contra imigrantes para agradar sua base racista nos EUA. Já Malafaia depende justamente dos imigrantes brasileiros para sustentar sua rede de influência e arrecadação fora do Brasil.

O resultado é uma crise dentro da própria retórica da ultradireita: como defender Trump e atacar os mesmos imigrantes que enchem seus templos e bolsos? Malafaia ainda não encontrou essa resposta — e talvez nunca encontre. Afinal, conciliar lucro, fé e ideologia extremista sempre foi uma equação perigosa.

Conclusão: mais que crítica, uma confissão

O que se viu nesse episódio não foi apenas um rompante de indignação. Foi uma confissão pública — ainda que disfarçada — de que o bolsonarismo não é sustentável fora do teatro de guerra cultural. Quando precisa lidar com realidades concretas — como brasileiros imigrantes que trabalham duro e sustentam igrejas — a máscara cai.

A crítica de Malafaia a Trump não é um sinal de consciência. É o sintoma de um sistema ideológico começando a ruir sob o peso de suas próprias contradições.


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