Brigas internas e ausência de candidato unificado implodem projeto bolsonarista, enquanto Lula consolida frente progressista

A direita brasileira atravessa uma das crises mais profundas desde a ascensão de Jair Bolsonaro ao Planalto. O bloco que se apresentava unido em 2018 se fragmentou em disputas pessoais, estratégias divergentes e agendas contraditórias. Para a cientista política Josué Medeiros, a configuração atual resume-se a três polos: a esquerda, coesa em torno de Lula; a extrema‑direita bolsonarista; e a direita tradicional, hoje esfacelada em diversos partidos.

O diagnóstico não é exagerado. Marcelo Copelli aponta que o desgaste acelerado do campo conservador ficou evidente nas últimas semanas: manifestações de rua contra a PEC da blindagem e a anistia aos golpistas expuseram fissuras entre caciques partidários e a base militante. O que restou foi um bloco em decomposição, atravessado por contradições públicas e perda de fôlego. Na prática, a direita caminha para 2026 sem projeto unificado, sem discurso mobilizador e sem liderança incontestável. O risco é chegar às urnas rachada, com votos dispersos e incapaz de oferecer alternativa consistente ao que Lula representa.

A crise foi potencializada pelo embate público entre o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, e o deputado Eduardo Bolsonaro. A CNN Brasil lembra que a troca de farpas nas redes escancarou as divisões internas e as incertezas sobre quem representará a direita na eleição presidencial. O centrão pressiona para definir um nome forte, mas há apenas especulações sobre Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, sem consenso. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, já havia se indispôs com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e agora enfrenta críticas inclusive de aliados por estratégias consideradas contraproducentes.

As brigas se multiplicam. Nikolas Ferreira, deputado do PL, usou as redes para pedir que a direita abandone disputas internas e direcione energias à construção de um projeto coerente. Segundo ele, ataques entre aliados afastam eleitores e enfraquecem o campo conservador. Em sua avaliação, insistir em intrigas e fofocas só beneficia adversários.

Enquanto a direita se dispersa, a esquerda se reorganiza. A pesquisa eleitoral monitorada pelo Observatório Político e Eleitoral (OPEL) mostra que o campo progressista recuperou terreno nos últimos meses. A mobilização em torno de justiça social e soberania nacional, aliada à defesa de programas como a taxação dos super-ricos, ajudou Lula a retomar popularidade e intenções de voto. A aprovação do governo se recuperou e hoje Lula desponta como candidato competitivo à reeleição.

Para observadores, essa conjuntura abre oportunidade histórica para a esquerda. Sem uma liderança capaz de unir os conservadores, o caminho se abre para que forças progressistas ampliem bases eleitorais, intensifiquem políticas sociais e consolidem alianças. “A direita que se vendeu como antissistema não conseguiu sustentar nem sua própria coesão. Hoje, mais fragmentada do que nunca, corre o risco de assistir passivamente à consolidação de um ciclo progressista no país”, conclui Copelli.

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