Como a ameaça de tarifa de Trump pode ser a fagulha da transformação industrial do Brasil

A mente econômica de Adam Smith falava em “mão invisível” que autorregula mercados. Mas quando um governo decide cutucar essa mão — impondo tarifas, desencadeia um efeito cascata que pode virar oportunidade. O mais interessante dessa guerra comercial entre Estados Unidos e Brasil pode ser justamente isso: a chance de ativar nossa indústria e transformar o modelo dependente.

1. Mudança de papel: deixamos de ser colônia para virar protagonista

Trump ameaça taxar produtos brasileiros em 50%, inclusive matéria‑prima crítica como minério, soja e café — mas esquece o óbvio: o Brasil não está preso a esse destino. Se EUA fechar a porta, novos investidores podem abri-la — e aqui. Imagine siderúrgicas montadas no país, refinarias reativadas. Um empresário americano se estabelece no Brasil não para exportar minério, mas para produzir aço aqui, gerando emprego, renda e valor agregado, pronto para exportar globalmente.

2. Reconquista da cadeia produtiva: o exemplo do café e diesel

Não é teoria: já fizemos isso com o café solúvel nos anos 1970, lembram? Ou o diesel — que era refinado nos EUA — voltou a ser produzido localmente, quando se reativaram refinarias. Agora, a guerra tarifária oferece o mesmo gatilho: suprir aqui o que importávamos lá. Esse é o verdadeiro prêmio — o Brasil deixando de vender matéria-prima para comprar valor industrializado.

3. Benefício estrutural para a indústria e trabalhadores

A conjuntura pode ainda ser temporária, mas o impacto não. Empresas locais poderão investir em agroindústria, siderurgia, refinarias. Será repasse de renda, absorção de tecnologia, qualificação de mão de obra. Quando a tarifa for suspensa — pois irá —, vamos ficar com a infraestrutura, os empregos e a indústria que surgiram no período de “choque tarifário”.

4. É jogo político, mas com resultado econômico real

Claro, Trump está jogando com carteiras e câmeras: 50% de impacto nos EUA pode gerar inflação, pressão política interna e recuo — como já ocorreu com outras cartas tarifárias recentes . Mas sua chantagem acende o alerta no Brasil: se usado com inteligência, pode ser o impulso que faltava para romper ciclos de subdesenvolvimento econômico.


Conclusão: da chantagem à autonomia industrial

A guerra econômica entre Brasil e EUA não é só geopolítica — é uma chance de recuperar protagonismo na cadeia global de valor. Se Lula e setores progressistas conseguirem adotar estratégia clara e coordenada, essa “pirraça” de Trump pode se tornar a alavanca para um salto produtivo nacional, deixando de exportar commodities para vender tecnologia e valor ao mundo.


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1 comentário em “Guerra Comercial EUA‑Brasil: a aposta histórica que pode virar força econômica – por Leonardo Stoppa

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